Arcos triunfais


Cerca de três semanas após o tão celebrado golo de Del Valle nos descontos diante do Benfica, era o Porto que se deslocava à cena do crime (quase) perfeito, sabendo que não havia grande margem de erro e que o Rio Ave dificilmente seria um adversário acessível, sobretudo sabendo que na cabeça dos jogadores o confronto frente ao Bayern da próxima quarta-feira estava já bem presente. A verdade é que desde o início da partida foi perceptível que Lopetegui tinha conseguido tirar de forma absoluta o foco do importante jogo europeu, até porque o campeonato não é de todo apenas uma miragem e os adeptos têm tornado claro que acreditam piamente na capacidade da equipa em igualar ou até mesmo transformar a nosso favor o confronto directo que neste momento é vantajoso para o Benfica. Apesar do receio que grande parte dos portistas levavam para este jogo, a equipa começou o encontro a todo o gás, com uma enorme vontade de chegar ao golo, não permitindo o mínimo dos espaços à equipa adversária, que durante a primeira parte apenas mostrou uma ténue reacção após o golo de Quaresma, mesmo não dispondo de nenhuma oportunidade flagrante, ao contrário do Porto que para além dos golos marcados dispôs de vários lances para levar para o balneário um resultado ainda mais dilatado. A segunda parte trouxe um jogo relativamente diferente, com a equipa a baixar no terreno e a iniciar a habitual gestão do resultado, e pese embora o golo dos vilacondenses e consequente pressão na procura do empate, o Porto foi sempre mais perigoso e acabou por confirmar a vitória com um importante golo de Hernâni, que começa assim a revelar-se com uma excelente alternativa nas faixas do ataque da equipa.

Começando a partir dos primeiros minutos da partida a exercer uma pressão intensa sobre o Rio Ave, tornou-se óbvia a intenção da equipa do Porto em encostar o adversário à sua linha defensiva, não
(forte pressão do Porto condicionava
o jogo dos vilacondenses)
permitindo qualquer surpresa vinda dos pés dos criativos da equipa, Diego Lopes, Ukra e Del Valle, que foram sempre extremamente bem vigiados e partindo com velocidade e critério para a frente de ataque, com Quaresma e Brahimi a criarem desde muito cedo interessantes desequilíbrios que faziam prever um golo dentro dos primeiros quinze minutos, que acabou mesmo por surgir, apesar de ter sido anulado numa incompreensível decisão do árbitro auxiliar. Mesmo com vários minutos de intensos protestos, vindos tanto do banco como dos próprios jogadores, a equipa não perdeu o norte relativamente àquele que continuava então a ser o seu objectivo, e manteve-se fortíssima na pressão que exercia sobre o adversário, com o meio-campo e os extremos - que estiveram imensamente solidários no processo defensivo - a recuperar rapidamente a bola e a procurar chegar ao último terço do campo do Rio Ave, sobretudo pelas alas. Não era portanto de estranhar, à imagem do que havia acontecido diante do Estoril, que durante os primeiros vinte minutos Quaresma tivesse já realizado três excelentes assistências para golo, que infelizmente não foram aproveitadas da melhor forma. Foi então a partir daí que Danilo e Alex Sandro começaram a envolver-se de um modo mais efectivo no jogo ofensivo da equipa, tendo sido sem surpresas que os dragões conseguiram chegar à vantagem. E pese embora ter existido uma tentativa por parte do adversário em sacudir um pouco da pressão inerente ao golo sofrido, o Porto continuou extremamente seguro, com um meio-campo muito bem povoado e organizado, com Óliver a apresentar-se como o expoente máximo da capacidade de luta e desarme e qualidade de passe e movimentações. A pressão do Rio Ave ia diminuindo e apesar de alguns passes menos bem conseguidos por parte de Herrera a equipa permaneceu sempre muito coesa e em mais um momento patrocinado pelos nossos laterais, conseguiu mesmo chegar ao segundo golo, num fantástico remate em arco de Danilo, concluindo uma primeira parte de excelente nível. A intensidade do vento era grande em Vila do Conde, mas a do Porto era ainda maior.

A entrada na segunda parte seguiu exactamente os mesmos registos da primeira, com o Porto perto de marcar logo no reatar do encontro, com Aboubakar a voltar a desperdiçar um lance aparentemente
(Aboubakar; duas vezes isolado, duas
vezes sem conseguir sequer o remate)
acessível. Além de ter estado relativamente desligado da equipa, o avançado voltou a não conseguir concretizar mais do que um lance em que aparece isolado na cara do guarda-redes, possivelmente por adornar excessivamente as suas jogadas. Começa a ser já uma crítica repetida e é óbvio um certo ping-pong de opiniões entre os jogos em casa e fora, pois existe e cada vez mais declaradamente um Aboubakar a jogar na condição de visitado, e outro na condição de visitante. E este último simplesmente não convence, sobretudo por não conseguir concretizar oportunidades absolutamente alheias à sua (in)capacidade de jogar de costas para a baliza. Mesmo com o desacerto do camaronês, o Porto não desistiu de procurar o terceiro golo, que esteve muito perto de aparecer pelos pés de Alex Sandro, que por duas vezes obrigou a defesa do Rio Ave a retirar a bola praticamente em cima da linha de baliza.
A partir daí, a equipa assume um estilo de jogo baseado em transicções - com Lopetegui a introduzir e bem Hernâni no jogo -, com os azuis e brancos a recuarem bastante mais no terreno mas com os laterais a avançarem de forma contínua para a frente de ataque. Era indiscutível que o Porto continuava dono e senhor do encontro - sobretudo devido à quase heróica capacidade do meio-campo em dominar de forma absoluta o jogo interior adversário-, mas o recuar no terreno da equipa que não foi devidamente
(impressionante a forma como o meio-campo do Porto rapidamente
se recompunha, sempre com uma excelente pressão sobre o portador da bola)
acompanhado por Danilo e Alex Sandro acabou por expor o Porto a alguns sobressaltos, sobretudo pela direita onde o nosso capitão demonstrava já sinais de cansaço, precisamente por onde Marvin furou, assistindo Tarantini para o golo do Rio Ave.
Por esta altura eram já vários os jogadores portistas que se ressentiam da intensidade e entrega que tinham mostrado até ao golo adversário, pelo que os elementos de Pedro Martins tentaram de forma bastante célere alcançar o golo do empate, mas mesmo com o coração nas mãos a nossa equipa não se partiu, e a entrada de Rúben Neves em campo ajudou a segurar um precioso triunfo que acabou reforçado num lance de contra-ataque, com Hernâni a concluir uma excelente jogada com mais um remate em arco, sem hipóteses para Ederson. A forma inteligente como o Porto pressionou a linha defensiva do Rio Ave após o golo sofrido, evitando que a bola chegasse rapidamente e pelo chão aos principais elementos desequilibradores dos vilacondenses foi também vital para garantir que o adversário não chegasse com critério a zonas do terreno próximas da nossa grande área.
No final, e apesar de alguns sobressaltos, o resultado peca por curto, pois a exibição que a equipa realizou merecia uma vantagem mais alargada.

A reter: considerando aquele que é o nosso próximo adversário, parece-me pertinente fazer uma análise a alguns aspectos isolados em que a equipa ou alguns elementos da mesma precisam de melhorar substancialmente de forma a que as próximas duas semanas não se decidam negativamente por pormenores que já deveriam estar interiorizados desde o início da época:

  • Não me considerando o maior defensor de Herrera, é inegável a sua entrega ao jogo, a capacidade de pressão e a relativamente boa capacidade de passe que possui, mas é obrigatório que melhore neste último capítulo, especialmente quando circula a bola para a linha defensiva, pois tende a ser extremamente displicente, entregando várias vezes o esférico ao adversário em zonas do terreno absolutamente proibidas; por outro lado, seria interessante ver o mexicano a procurar o golo de uma forma mais eficiente. Sendo um jogador que chega de forma bastante simples à área adversária, consegue invariavelmente encontrar espaços para tentar o remate, mas raramente o faz, mesmo sabendo que a sua capacidade de finalizar é de forma relativamente consensual elogiada;
  • A necessidade de evitar certos registos técnicos que tão raras vezes se apresentam com bons resultados é imperativa. Lances de calcanhar como os que vemos várias vezes com Casemiro, Herrera e Brahimi não podem existir, sobretudo considerando que a capacidade de equipas como Bayern e Benfica em aproveitar esse tipo de erros é infinitamente superior quando considerando equipas como o Estoril ou Rio Ave;
  • Uma maior objectividade quando em zonas próximas da área adversária. Não raras vezes é possível vislumbrarmos Brahimi a recriar-se com a bola nos pés, até mesmo quando já se encontra dentro da grande área. Conseguir encontrar esses espaços é o mais difícil, portanto a importância está numa decisão mais célere na definição desses lances;
  • (falta de reacção nas bolas paradas
    defensivas quase permite um golo ao Rio Ave)
  • Por fim, parece existir uma dificuldade clara na equipa do Porto em reagir a determinados lances no capítulo defensivo, sobretudo em jogadas de bola parada. A equipa raramente reage aquando de um cabeceamento do adversário, que quando é efectuado para um companheiro de equipa e não para a baliza acaba por permitir uma oportunidade flagrante, pois o jogador que recebe a bola acaba por ficar completamente isolado. Foi assim que sofremos o golo que nos eliminou da Taça da Liga, e por muito pouco ia sendo assim que sofríamos um golo do Rio Ave, ainda nos primeiros cinco minutos da segunda parte. 

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